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Regina Menezes Loureiro

Plantei flores no passado,

em mão plena ofereci.

Deste tesouro ofertado.

alegres frutos colhi.


Há flores pra todo lado,

no jardim imaginário,

um caramujo calado,

bem-te-vi autoritário.


Nesta rosa tão vermelha,

cheia de vida e fulgor,

vejo uma bela sentelha[1]

de enorme carinho e amor.


Quando as roseiras florescem,

todos os viventes se calam,

aves, campos emudecem,

bruxas, duendes se abalam.


Árvores sempre florescem,

dão frutos se bem tratadas,

nascentes logo aparecem

em serras também cuidadas.

Preservar é, acredite,

um ato de puro amor.

Nosso planeta, medite,

é belo quando tem flor.

[1] Sentelha: faísca, partícula luminosa,inspiração.

Regina Menezes Loureiro

Histórias são fragmentos

da vida que se viveu

e o livro tem elementos

que educam o povo meu.


Vô Nato é professor,

me ensinou também contar;

com meu bom educador.

aprendi a soletrar.


Quando cresci um pouco mais, a lembrança continuava. Se 13 de agosto fosse, lá na curva do angico, fantasmas apareciam e a mula-sem-cabeça assombrava.

Vinha relinchando à meia noite e... e o porão secreto do casarão sempre lotava.

Com porta de alçapão, o porão era refúgio seguro, de toda família, em caso fossem atacados.

Com pequenas aberturas para passar a carabina afugentavam invasores que de lá aproximassem.

Em tempo de guerra e sufoco, saía fumaça e o estampido de disparos das armas de fogo que envolviam o casarão. O colorido da fumaça avermelhada despertava terrível emoção. Por isto era chamado de Solar Vermelho, o casarão.

Todos corriam para o porão, com medo do Pererê e da Mula Sem Cabeça.

Pererê era moleque que aprontava para valer: amarrava o rabo das vacas, soltava porco do chiqueiro, fumava cachimbo e tal.

A mula-sem-cabeça era mulher que namorasse padre e que o encanto só se quebraria se alguém tirasse o freio da mula desembestada. Então a pecadora voltava toda ferida, toda arranhada, muito machucada e arrependida de todos os seus pecados.

Esta transformação ocorria entre quinta e sexta-feira, pela madrugada, quando a mula saía em disparada pelos campos. Ia destruindo tudo que via pela frente. Pisoteava até pessoas e relinchava muito alto.

Era o terror da moçada.

Outro fato aconteceu num morro já meio pelado, lá pros lados do angico. Uma bola de fogo se deslocava sobre a montanha e se elevava a considerável altura, por entre opulentos gravatás. Como uma sarça ardente, um cenáculo de horrorosos espectros. Nada consumia, nem nada era consumido. Contribuía para aumentar o medo de todos que passavam pelo angico.

Cenáculos de espectros!

Horripilante!

Diante do facho ardente, todos se escondiam com medo de assombração.

Muitas orações eram feitas, procissões se formaram para pedir proteção aos Céus.

Até que um dia tudo desapareceu.


Regina Menezes Loureiro

Não era inventado, o rio,

era grande e passava,

perto da casa, e sombrio,

belas histórias contava.

Celina ainda é menina

mas no rio nem sente frio;

entre uma flor bonina,

ela está olhando o rio!

Logo que o sol desponta,

brilha o caminho do rio;

e Celina já se apronta

ela vai pro beira-rio

Quando sol prateia o rio,

pássaros, em desvarios,

bela goiaba disputam,

por entre galhos sombrios.

Catarina Uma patinha fez ninho

com biquinho ela escolheu

gravetos, botou ovinho

e ainda o patinho nasceu.

Celina com seus bichinhos:

aranhas tecendo, e a menina

que era só muito carinhos.

Era o mundo da Celina!

E com as formigas brincando,

move o caminho do rio;

a água corrente levando

o tronco a semente o brio.

A menina limpa o rio

ele tem até sapinho!

muito bem minha menina

seu exemplo é o caminho.

E plantou semente boa

e em bom terreno nasceu,

bateu asa e voa

longe vai destino meu.

Um azulão canta dobrado,

agradece o bem-te-vi,

no peitoril do sobrado.

muita flor pra o colibri

Lá nas graxas do jardim,

eternas juras de amor,

renova a vida, enfim,

nas margens do rio em flor.

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