me ensinou também contar;
Quando cresci um pouco mais, a lembrança continuava. Se 13 de agosto fosse, lá na curva do angico, fantasmas apareciam e a mula-sem-cabeça assombrava.
Vinha relinchando à meia noite e... e o porão secreto do casarão sempre lotava.
Com porta de alçapão, o porão era refúgio seguro, de toda família, em caso fossem atacados.
Com pequenas aberturas para passar a carabina afugentavam invasores que de lá aproximassem.
Em tempo de guerra e sufoco, saía fumaça e o estampido de disparos das armas de fogo que envolviam o casarão. O colorido da fumaça avermelhada despertava terrível emoção. Por isto era chamado de Solar Vermelho, o casarão.
Todos corriam para o porão, com medo do Pererê e da Mula Sem Cabeça.
Pererê era moleque que aprontava para valer: amarrava o rabo das vacas, soltava porco do chiqueiro, fumava cachimbo e tal.
A mula-sem-cabeça era mulher que namorasse padre e que o encanto só se quebraria se alguém tirasse o freio da mula desembestada. Então a pecadora voltava toda ferida, toda arranhada, muito machucada e arrependida de todos os seus pecados.
Esta transformação ocorria entre quinta e sexta-feira, pela madrugada, quando a mula saía em disparada pelos campos. Ia destruindo tudo que via pela frente. Pisoteava até pessoas e relinchava muito alto.
Outro fato aconteceu num morro já meio pelado, lá pros lados do angico. Uma bola de fogo se deslocava sobre a montanha e se elevava a considerável altura, por entre opulentos gravatás. Como uma sarça ardente, um cenáculo de horrorosos espectros. Nada consumia, nem nada era consumido. Contribuía para aumentar o medo de todos que passavam pelo angico.
Diante do facho ardente, todos se escondiam com medo de assombração.
Muitas orações eram feitas, procissões se formaram para pedir proteção aos Céus.
Até que um dia tudo desapareceu.