Marlusse Pestana Daher
Quando alguém gosta de fazer alguma coisa, gosta também de partilhar o resultado do que faz com as pessoas do seu convívio. Entre esses gostos se inclui o de escrever.
Há muita gente escrevendo no Espírito Santo, pouca consegue colocar na imprensa ou publicar seus escritos. Confesso que sinto uma inevitável sensação de desalento, ao chegar a uma livraria e verificar que de forma bonita, chamativa, atraente, a maioria das obras oferecidas são de autores estrangeiros que, ou repetem em outros termos histórias conhecidas, ou as colocam em outros cenários, outras terras, onde o clima é outro, são outras as realidades.
É verdade que são resposta aos anseios do nosso, muito nosso público leitor, que julga estar em versões nem sempre autênticas o que buscam, a possibilidade de saciar a sede que têm de passar boas horas de enlevo, lendo.
Não se trata de desmitificar o velho adágio: “santo de casa não faz milagre”, mas um esforço sim, que se empreende com imensurável garra no sentido de alertar que aqui são produzidas obras de igual quilate ao das melhores encontradas por ai, quando não superior a expressibilíssima maioria delas.
No entanto, não são lidas. Na busca de visibilidade e conquista do próprio lugar ao sol, a Academia Feminina Espírito-santense de Letras, a Academia Espírito-santense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico reuniram forças e promovem neste mês de maio, 15 a 18, na Praça do Papa a FEIRA LITERÁRIA CAPIXABA.
A FLICA tem como objetivo fundamental, divulgar a autora e o autor capixabas. É grande a expectativa de que os leitores de todo o Espírito Santo tornem-se curiosos e queiram conhecer a literatura genuinamente capixaba, produzida por capixabas por natureza ou por adoção.
Fundamentalmente, a grande virtude da literatura que é nossa – cada um de cada Estado, pode-se expressar assim – é retratar desde cenários, costumes, cultura e qualquer expressão vital que brota em gente, fatos acontecidos em ambiente que nos são deveras familiares, muitas vezes nos tendo como protagonistas, com as expressões e falares que caracterizam cada grupo e via de consequência exala perfume genuíno de coisa nossa.
Sem dúvida, na literatura se repete a sanha de atravessar fronteiras para fazer turismo, quando continuam indizíveis as belezas existentes no nosso país, cujo céu se tinge de azul único, cuja linha é ainda mais reta no infinito em que o mar se une ao céu, onde “nossa vida tem mais vida, nossos bosques têm mais flores”, enquanto continua a ser verdade o que outrora disse o poeta aos infantes: “não verás país nenhum como este”.
Idem. Nossa literatura é muito boa. Importa descobrir a beleza que existe nos versos da poetisa ou do poeta capixaba, quando decanta o amor ou mesmo a dor, a precisão sequencial, a melodia que sucede entre termos sucessivos ou frases chegando à composição total de uma crônica.
Onde quer que alguém esteja, onde quer que a sede de cultura o surpreenda, ao seu lado está a literatura capixaba permeada do sabor do que é nosso, falando das experiências que são só nossas, registrando os fatos que fazem a nossa história, enfim, usando da palavra mediante sua expressão maior, realizar a comunicação.
Ou não nos lamentemos se quando nos lembrarmos de fatos que gostaríamos de transmitir aos filhos dos nossos filhos, não pudermos contar com a literatura muito nossa, a capixaba.